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14 de
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Modificado: terça-feira, 14 de abril de 2015, 11h05
A
televisão brasileira, infelizmente, tornou-se uma das piores do mundo
no que se refere aos valores morais, à alienação do povo e sua
deseducação
Em duas oportunidades – antes de surgir as TVs católicas –, o
falecido Cardeal e ex-Primaz do Brasil, Dom Lucas Moreira Neves,
publicou, no Jornal do Brasil, dois famosos artigos sobre a televisão
brasileira. Esses foram publicados também na Revista “Pergunte e
Responderemos” (n. 375, 1993, pg. 357ss)”. No primeiro texto, cujo
título é J’Accuse! (Eu acuso!), o prelado afirmava entre outras coisas:
“Eu acuso a TV brasileira pelos seus muitos delitos. Acuso-a de
atentar contra o que há de mais sagrado, como seja, a vida. Acuso-a de
disseminar, em programas variados, ideias, crenças, práticas e ritos
ligados a cultos. Ela se torna, deste modo, veículo para a difusão da
magia, inclusive magia negra, satanismo, rituais nocivos ao equilíbrio
psíquico.
Acuso a TV brasileira de destilar em sua programação e instalar nos
telespectadores, inclusive jovens e adolescentes, uma concepção
totalmente aética da vida: triunfo da esperteza, do furto, do ganho
fácil, do estelionato. Nesse sentido, merece uma análise à parte as
telenovelas brasileiras sob o ponto de vista psicossocial, moral e
religioso […]
Qual foi a novela que propôs ideais nobres de serviço ao próximo e de
construção de uma comunidade melhor? Em lugar disso, as telenovelas
oferecem à população empobrecida, como modelo e ideal, as aventuras de
uma burguesia em decomposição, mas de algum modo atraente”.
Acuso, enfim, a TV brasileira de instigar à violência: A TV
brasileira terá de procurar dentro de si as causas da violência que ela
desencadeou e de que foi vítima […]”.
No segundo artigo (27/01/93), sob o título de “Resistir, quem há
de?”, o cardeal pede uma mobilização da família cristã contra isso:
“Opino que a família deve estar na linha de frente de resistência: os
pais, os filhos, os parentes e os agregados – toda a constelação
familiar. Ela é a primeira vítima, torpemente agredida dentro da própria
casa; deve ser também a primeira a resistir. É ela quem dá IBOPE, deve
ser também quem o negue, à custa de fazer greve ou jejum de TV.
Cabe, pois, às famílias, ‘formar a consciência crítica’ de todos os seus membros frente à televisão; velar
sobre as crianças e os adolescentes com relação a certos programas;
mandar cartas de protesto aos donos de televisão; chamar à atenção os
anunciantes, declarando a decisão de não comprar produtos que financiam
programas imorais ou que servem de peças publicitárias ofensivas ao
pudor, exigir programas sadios e sabotar os mórbidos para que não se
diga que o público quer uma TV licenciosa, violenta e deseducativa”.
É preciso meditar profundamente nesta grave acusação de Dom Lucas
Moreira Neves. Os pais e educadores, sobretudo os cristãos, não podem
deixar as crianças e os jovens à mercê de uma televisão baixa, imoral,
deseducativa, amedrontadora e desleal. A TV tem sido a grande promotora
da destruição dos valores morais e da família.
O próprio Walter Clark, falecido em 1997, fundador e ex-diretor da TV
Globo, também deu o seu testemunho contra essa situação, por intermédio
do jornal Estado de Minas (07/01/93, pg 13), afirmando, entre outras
coisas, que “A TV brasileira está vivendo um momento autofágico. Lamento
ter contribuído, de alguma forma, para que ela chegasse aonde chegou. A
emissora está nivelando por baixo: existem traições, incestos, impulsos
sexuais incontidos, cobiça, ódio… Tudo isso existe, mas não é só isso.
A sociedade, que já está violenta, acaba tendo no seu registro mais
forte de comunicação, que é a TV, só violência”.
Já faz quase vinte anos que esses alertas foram feitos, mas parece
que pouco mudou. É verdade que, graças a Deus, surgiram as TVs
católicas, que fazem uma “pregação sistemática de valores”,
contrapondo-se a outras que fazem o contrário: “uma pregação sistemática
de antivalores”.
A televisão brasileira, infelizmente, tornou-se uma das piores do
mundo no que se refere aos valores morais, à alienação do povo e sua
deseducação. O que temos visto nos famosos “reality shows”, nas novelas e
outros programas de auditório? Algo deprimente. Jovens e artistas que
expõem suas intimidades ao público em busca de fama e dinheiro fácil,
dando aos milhões de jovens mau exemplo de vida. A única coisa nobre
nesses programas é o horário; são, na verdade, um fomento à mais
mesquinha fofoca em horário nobre.
Explora-se, de modo sutil,
com um marketing refinado, a miséria das pessoas, seus problemas
sentimentais, afetivos, morais, espirituais, num desrespeito profundo à
dignidade do ser humano. Ele ali é usado e enganado para dar IBOPE e lucro, nada mais.
Esses programas e outros, repito, em horários nobres, aos quais
crianças e jovens assistem, levam-nos ao esquecimento de nós mesmos, à
alienação, à futilidade e imoralidade. São cenas contínuas de
incitamento sexual, masturbação, convite à fornicação e outras
tristezas. Não há cultura, não há formação, não há boa informação; é
apenas apelo aos vícios: exibicionismo, soberba, cultura do prazer,
sexismo, pornografia, homossexualidade, competição baixa, infidelidade
conjugal, preguiça, ociosidade, intrigas,
strip-tease e
disputas desumanas que levam as pessoas à exaustão física e mental. Tudo
em busca de sucesso e dinheiro fácil. Tudo contra o que nos ensina
Jesus Cristo. O importante é se tornar uma “celebridade nacional” com
direito a outros sucessos. Mas com base em que conteúdo?
A consequência de tudo isso é que se vai aumentando o número de
adolescentes grávidas, os abortos, estupros, infidelidades conjugais,
homossexualidade, casais separados, jovens abandonados vivendo no crime,
na droga e na bebida. Por outro lado, o povo é massificado.
Explora-se maldosamente o mórbido gosto natural pela fofoca e
“bisbilhotagem” da vida alheia, fazendo da massa popular como que um
rebanho que não pensa e não critica. É uma alienação e desserviço à
população. Explora-se comercialmente, “inteligentemente”, a falta de
cultura de povo oriundo de uma escola fraca; aumenta-se, como disse
alguém, o seu “emburramento”.
Ora, a lei diz que televisão – cuja concessão é do Estado – tem a
missão de educar, formar, informar, dar cultura e educação. É isso que
temos visto? Não, não e não. Temos visto uma TV que destrói a família e
seus valores sagrados. Com um faturamento financeiro enorme, vende-se
alienação numa enorme vitrine de propaganda patrocinada por ricas
empresas. Uma campanha na internet contra tudo isso chegou a anunciar:
“Quem patrocina a baixaria é contra a cidadania”, é contra o povo;
então, como disse o Cardeal Dom Lucas, é preciso o boicote dos cidadãos,
especialmente dos cristãos, a quem fomenta a imoralidade.
Lutar contra tudo isso não é moralismo, mas defesa dos valores morais
e da família, coluna da sociedade. O povo brasileiro tem sido ofendido e
chocado com as barbaridades apresentadas em novelas, com cenas
chocantes, palavras chulas e obscenas, que não se pode escrever aqui.
Tenta-se, de maneira sutil e maliciosa, passar isso ao povo como “se
tudo fosse normal e lícito”, como se o sexo fosse apenas atos de
genitalidade, apenas prazer sem uma visão moral e um compromisso com a
vida e com o outro, como se fossemos irracionais.
O Congresso Teológico Pastoral de Valencia, na Espanha, no V Encontro
do Papa com as famílias, disse que “a família vive uma crise sem
precedentes na história”, cujas raízes se encontram na “pressão
ideológica” exercida pela “mentalidade consumista” e pela ação de “um
laicismo de raiz niilista e relativista”.
É preciso reagir contra esse estado de coisas. Não podemos ficar
calados e inertes diante desta cultura niilista e sem Deus que quer tudo
destruir. Se não nos mobilizarmos contra isso, estaremos sendo
coniventes com a destruição da família e da sociedade, diante de Deus e
dos homens.
O que queremos para os nossos filhos e netos?
Prof. Felipe Aquino
Fonte: http://formacao.cancaonova.com/atualidade/sociedade/os-estragos-da-tv-brasileira/